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terça-feira, 12 de julho de 2011

INTERVALOS




Já não cabem mais declarações
Na verdade não cabe mais nada
Toda explicação é despropositada
Todo comentário é inconveniente
Não há mais que se falar
Em conserto ou em “será”
É estranho o ponto em que chegamos
No qual todos os comentários
Caem como pedras no vidro
Dobramos esquinas, cada um a sua
Rasgamos o tapete vermelho
Que nos levava a um destino comum
Mudamos a rota
Numa guinada mortal
Os anjos se escandalizaram
Com pureza desinformada
“- Absurdo dos absurdos!”Que, no entanto, aconteceu...
... e continua acontecendo
A cada dia, a cada hora
Como goteira funesta
Que chora no fim da festa
Nosso afastamento
É progressivo e presente
Já que “passado”
É o que parou de acontecer.
Preferia que tivesses me deixado
Assim eu poderia, com propriedade
Perguntar “por quê?”
Perguntaria ao céu, às aves,
Às feras e às crianças
Ninguém me responderia
Mas entenderiam minha perplexidade
E eu ganharia abraços
Preferia que tivesses me deixado
Assim eu poderia imaginar motivos à noite
E ir dormindo aos poucos, suavemente,
Enquanto tentasse desvendar
Nossa intrincada equação
Eu teria pena de mim mesma, ou ódio
Só para ter o prazer
De perdoar-me depois
E então levantar a cabeça
Totalmente consolada.
Será sempre uma anomalia
Uma dor, um suspiro,
A povoar os intervalos da minha felicidade
Quando a lembrança me assaltar
Levarei as mãos ao rosto
Em um ato involuntário
E perdoável
Então
Na pausa da felicidade
Farei reverente silêncio
Pra poder me recompor
E descobrir novamente
Que não há nada de novo
Debaixo do meu sol
Tudo são espumas...
Espumas de ondas passadas
“Durma em paz, alma minha!”
O passado
Não é uma árvore que ficou para trás
Na beira da estrada
Penso que seja uma ave
Que nos acompanha grasnando
Desajeitadamente
As músicas que cantávamos.


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